terça-feira, 26 de abril de 2011

Fim de férias: emoções diferentes para toda a família


As férias deixaram uma espécie de memória grudada na pele, lembranças como fotografias, saudades em estado puro.

O barulho agitado das crianças brincando na areia vinha de longe, com a brisa. Era transparente aquele dia que passaram na praia: tiveram a coragem de entrar no mar e, ao voltarem para casa, sentiram uma alegria enorme e o rosto a arder.

De bicicleta, pelas manhãs, seguiam por alamedas sombreadas. A casa de veraneio era cercada por árvores úmidas, com os troncos cobertos de musgos e grandes moitas de verde escuro. O calor chegava a imobilizar. O crepúsculo descia como uma trêmula gelatina avermelhada, tornando impetuoso o vento. As janelas permaneciam abertas.

Na cozinha, uma caçarola em fogo baixo deixava resmungar, surdo e abafado, o molho que estourava em mil pequenas bolhas. A lua parecia sempre cheia. Da varanda escutava-se o som das cigarras estridulando. Os perfumes eram intensos. Perfumes de um verão no qual tinham aprendido que a natureza estava em qualquer lugar.

Mas tudo o que é bom, dura pouco. O tempo passa voando, escorre entre os dedos. As horas parecem minutos. Foi um piscar de olhos e o garoto precisava voltar para casa e para as aulas.

Mãe

A profusão de divórcios na sociedade contemporânea garante uma série infindável de encontros entre pais e filhos pelas rodoviárias e aeroportos do planeta. Os adultos se ajoelham e agarram forte, se desmanchando em lágrimas, aqueles corpinhos frágeis e gorduchos.

Assim acompanhei aquela mulher, belo sapato e bom perfume, esperando ansiosamente o momento. Podemos ocupar boa parte da nossa vida investindo em determinação e controle, mas na verdade somos seres de alarmante vulnerabilidade. Ela quase desmaiou ao avistar o garoto com os olhos da mesma cor que os dela e as faces, iguais às do pai, ainda rosadas pelo sol, emergindo lá detrás do portão de vidro e aço inoxidável. Mochila desproporcionalmente grande às costas, de mãos dadas com uma funcionária da empresa aérea.

Era como se a morte tivesse passado por ali. Uma ocasião de comoção e o sentimento de que haveria de chegar o dia em que o encontro fatídico não poderia mais ser adiado. O abraço que trocaram era uma maneira de enfrentar que somos mortais. Algum dia, dentro de muitos anos, a criança será um adulto e receberá um telefonema dolorido, dizendo que os médicos não tinham mais nada a fazer. Para o menininho já crescido será sempre aquele rosto em particular a maior ausência em qualquer portão dos muitos pelos quais desembarcará.