sexta-feira, 17 de junho de 2011

Profissão

ator

Quais os fatores positivos e os negativos dessa escolha?

“Ser ou não ser, eis a questão”. Muitos que já se aventuraram pela atuação provavelmente chegaram a participar de alguma montagem profissional ou amadora de Hamlet, um dos maiores clássicos de Shakespeare. Para alguns desses, a trama acabou por ser uma mera diversão ou passatempo. Para outros, tal questionamento foi apenas um dos primeiros que ainda surgiriam ao longo de suas carreiras. Ser ou não ser ator? Eis a questão.

Bernardo Fonseca Machado, 22, faz parte da segunda leva: a que decidiu que faria da atuação sua vida. “Não foi uma decisão consciente. Faço teatro desde pequeno e durante cerca de 12 anos frequentei um curso para crianças e adolescentes. Depois, fugi. Fui fazer faculdade e fiquei três anos distante do palco e desse universo. Então notei que algo faltava e resolvi retornar. Nesse momento, já formado em uma faculdade que não se vincula ao teatro, percebo que o teatro é minha opção de vida”.

O rapaz, então, retomou o curso de atuação no ano passado. Para ele, a “possibilidade de superação de paradigmas pessoais” é o maior atrativo da profissão que escolheu para si. Atualmente, Bernardo está em cartaz com duas peças: Projeto Canastra, um trabalho “experimental”, e Namorados na Catedral Bêbada. Além disso, o rapaz também já participou do elenco de apoio de Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, e de curtas estudantis. “Televisão nunca fiz”, diz.

Isso não quer dizer que o ator menospreze determinados trabalhos. Pelo contrário. Segundo ele, a principal característica que um aspirante a essa vida deve ter é a “disponibilidade”. “Acredito que o mais interessante é estar disponível para os diferentes veículos de informação. Não posso negar que tenho uma predileção muito maior para teatro, é a minha casa e a minha linguagem. Mas gosto de trabalhar com câmera, ela orienta o trabalho para uma dimensão mais microscópica que me agrada”. “Não sou adepto da divisão de arte por gêneros, acho que eles limitam a força artística. Mas também não faria qualquer trabalho. Busco, geralmente, algo que pretende indicar alguma espécie de reflexão ou experiência, para mim e para o público”, explica.

Mercado competitivo
Mas é claro que nem só por glamour é pavimentada essa estrada. De acordo com o próprio Bernardo, há “muitas” dificuldades a serem superadas por quem deseja se tornar um profissional. “Primeiro, tem que decidir que se quer viver de teatro. Deixa-se de se ter final de semana, ensaia-se como um louco, muitas vezes dorme pouco porque no dia seguinte precisa trabalhar... Segundo: é difícil viver financeiramente de teatro, são pouquíssimas as produções que pagam dignamente um ator e os artistas envolvidos. Terceiro: é uma profissão que lida com questões e dimensões humanas muito profundas... isso pode ser desconfortável”.

Além de tudo isso, deve-se ter em mente que o mercado é competitivo, como conta o professor do curso de teatro profissionalizante do Teatro Escola Célia Helena, Leo Pellicari. “A trajetória do ator começa no momento em que ele decide se aprimorar, estudar, adquirir técnicas, aprofundar conhecimentos, desenvolver suas habilidades criativas. Atores com formação sólida e postura ética mantém-se sempre atuantes, seja no teatro, cinema ou TV, mesmo que a característica inerente ao exercício profissional seja de trabalhos esporádicos”.
Por isso, “conhecimento e referências são muito importantes. Deve-se ler muito, assistir a vários espetáculos, ver filmes, participar de palestras e mesas redondas, leituras dramáticas, visitar museus e exposições, assistir a concertos e tudo o mais que possa acrescentar e lhe oferecer referências. Uma exposição de artes plásticas, um filme, um livro, tudo é motivo de inspiração para a criação”, explica.

Feio e velho?
Mas você é feio? E já se acha velho? Isso, segundo o profissional, não quer dizer nada. “Por ser uma atividade expositiva, é essencial que o ator seja cuidadoso com sua aparência, independente de seu perfil físico. A imagem do ator e seus recursos expressivos fazem parte do seu instrumental de trabalho. Beleza é um atributo natural, não quer dizer talento e nem determinação. Em alguns casos ajuda a alavancar carreiras na TV ou cinema. Mas, o que realmente o mantém atuante é a marca imposta por seu trabalho criador como ator”.

Quanto à idade: “Não há idade limite para iniciar-se na profissão. Temos o exemplo da grande atriz Lélia Abramo que estreou profissionalmente aos 40 anos. Uma obra artística agrega personagens de várias idades. Torná-la crível depende da escala de um elenco que atenda o perfil das personagens a serem vividos por atores adequados à faixa de idade”.